Thursday, November 23, 2006

...tábua rasa / carta urbana / plain table /urban letter... (takes #3, 1/2)

3. Cartas de jogo:

3.1. Partir – Definição de conceitos

Por onde começar a jogar? Por preparar o jogo: planificar, explanar.
Para tal temos que começar, então, por definir os principais conceitos operatórios desta temática.
Podemos começar por definir sucintamente os conceitos de performance e urbano.
Performance define-se neste caso então, mais do que uma pratica social, uma prática artística, um modo de expressão artística; e com tal um meio de comunicação. Este género expressivo tem a sua génese no teatro clássico; contudo, introduz na sua estrutura uma liberdade de meios comunicativos que até então não existia dentro da dramaturgia, chegando mesmo a deixar de o ser (dramaturgia): os mais comuns são o vídeo, a pré-gravação de voz, a ausência de um texto dramático, etc.
É neste sentido que o género performativo mais se afasta do teatro clássico, acabando por surgir como género expressivo independente, com uma produção artística e teórica regular, no final da II Guerra Mundial.
Quanto ao conceito de urbano, ou centro urbano, este define-se (aqui utilizando autores como Weber, Simmel e Lefebvre) como local, de grandeza considerável, de estabelecimento de uma população que vive essencialmente do comércio e da prestação de serviços. Porém, o aspecto que mais interessa no contexto deste trabalho prende-se com as noções de espaço e tempo – variáveis que serão relacionadas mais à frente. Segundo Simmel, estas duas noções são consideravelmente reduzidas em relação àquilo que não se considera como centro urbano – tal facto deve-se sobretudo a uma muito maior mobilidade da população: dentro do centro urbano e entre centros urbanos.

Outro aspecto importante, e que caracteriza o centro urbano, é a existência de dois tipos de personagem especificas deste meio físico e social: o urbanita e o estrangeiro (conceitos ligados a George Simmel e à Escola de Chicago, respectivamente).
Tais conceitos serão de extrema utilidade na conceptualização da personalidade do indivíduo artista (sublinho novamente tratar-se somente de uma noção ideal, longe de ser estanque, fixa ou hermética).
O urbanita é definido, ao longo do trabalho de Simmel, como um indivíduo embotado, individualista, e apologista da diferença e da unicidade. Este traço psicológico é denominado por atitude blasée, uma inibição do processamento de estímulos, uma inibição da sensibilidade aos estímulos.
Por outro lado, o estrangeiro define-se por uma sede de dados, de informação: como se de uma tábua rasa se tratasse, à espera que o contexto se inscreva em si; como se incorporasse em si um mapa, uma carta descrevendo a paisagem; à espera de entrar no jogo (Coulon, 1997: 52).

Assim, o artista definir-se-ia como um urbanita eternamente estrangeiro; ou seja, seria um indivíduo apologista da diferença e da unicidade, individualista. Porém, e tal como o estrangeiro, ele encontra-se à parte – o artista possui uma capacidade de distanciamento analítico da sua própria sociedade, sendo ao mesmo tempo um nativo e um estrangeiro. Este distanciamento é promovido por um posicionamento transversal que toca várias áreas do social.




fim da 1ª parte: interlúdio

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