Saturday, November 25, 2006

...tábua rasa / carta urbana / plain table /urban letter... (o #1/2 take que faltava)

interlúdio: 2ª parte

Daqui, podemos partir para outras afirmações. Se tivermos em conta por exemplo algumas das teorias chicaguianas sobre a marginalidade – ou melhor, sobre as personagens marginais – podemos encaixar perfeitamente o artista nas premissas que se desenvolveram nos estudos da Escola de Chicago.
Seguindo o modelo de Chicago, poderíamos colocar o artista – tal como outras personagens ligadas a estilos de vida mais à margem da regra geral – na chamada zona de transição, área geográfica da cidade que seria pautada por uma forte desorganização social, conceito idealizado por Thomas.

Contudo, mais do que geográfico, este conceito aplicar-se-á à personagem do artista se pensarmos numa zona de transição de classes – aqui talvez num sentido demasiado marxista, mas que de certa forma me parece clarificar e sistematizar o que se pretende explicar.
Utilizando como ponto de partida o modelo de mapeamento de Chicago feito por Burgess, podemos desenhar um modelo hierárquico de classes sociais, baseado em diversos critérios: factores económicos, religiosos, culturais, simbólicos, etc; em que o centro seria o pólo de maior concentração destes tipos de capitais, e a periferia o local em que estes tipos se encontravam em maior défice.
Entre um extremo e outro, estaria o artista (entre outros personagens), qualquer que fosse o critério utilizado: isto porquê? Porque a sua movimentação é transversal às classes – ele é nativo e estrangeiro ao mesmo tempo; não só de um local como de uma classe social.

Voltando um pouco atrás, falta-nos então somente atribuir uma outra característica ao artista que o distanciaria do conceito clássico de urbanita: a atitude blasée, traço psicológico característico do urbanita mas que não caracteriza, muito pelo contrário, o artista. Este possui antes um traço psicológico muito mais ligado à emocionalidade, e ao envolvimento, a uma procura de estímulos – muito mais do que um embotamento que o salvaguarda dos mesmos.

Claro que tais afirmações, e como já foi referido acima, se tratam apenas de premissas ideais. Nem todo o artista se encaixara neste perfil psicológico/identitário. Todos estes factores se transformarão mudando o contexto cultural, social, politico, etc; porém estas características – especialmente se tomarmos a questão do envolvimento como núcleo central da identidade – tornam-se essência do perfil identitário do personagem artista, mais ou menos visíveis, prevalecendo umas sobre outras.

Quase se pode falar de uma terceira espécie – mais do que urbanita, mais do que rural, mais do que rico, mais do que pobre: artista.

É deste ponto que podemos partir então para as noções de site-specific e de contexto, bem como para a inserção da prática da performance nesse mesmo contexto: o urbano.


fim do ponto 3.1

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