Saturday, December 02, 2006

...tábua rasa / carta urbana / plain table /urban letter... (take #6)

3.3. Voltar a dar – Conclusão

É chegada a hora então de rever, de arrumar – de organizar para que se perceba claramente e depois avançar – propor, deixar um rasto.
Rui Horta dizia em conferência, no passado dia 13, que a colaboração entre artistas é legitimador do trabalho dos intervenientes, seja ele artístico, técnico, etc.
Creio que o mesmo se poderia dizer aqui. Na realidade esta relação que inicialmente se trata de um confronto entre o local e o artista interveniente acaba por ser uma colaboração entre ambos: um é matéria – conteúdo –, outro é molde – forma; ambos sacramentalizados pela sua junção.
Rogério Nuno Costa diz no seu texto que, em contexto performático site-specific, “recriamos uma cidade paralela em cima da cidade que nos apresenta” (Costa, 2004:120) – não será possível dizer o mesmo do interveniente? Dizer que se recria um individuo paralelo em cima do individuo que se apresenta? Não será possível que se construa uma nova versão de nós próprios mediante o contexto em que nos inserimos?
Parece-me, a mim, que seja legítimo dizê-lo.
Até porque, da tensão inicial fruto do confronto entre os dois elementos, espaço e individuo, não parece lógico (muito menos pareceria justo) que o espaço, por sofrer de um carácter naturalmente estático, seja o único a ser transformado ou recriado para um qualquer tipo de espectáculo. Como já referido acima, tanto o resíduo como o projecto ficariam no espaço e no artista interveniente em si; contudo, estas transformações parecem-me ser de uma profundidade maior que a memória ou que o sonho – elas acontecem em tempo real – por que esta é uma modalidade artística em tempo real. A obra de arte não nasce na apresentação pública da mesma. Ela nasce no momento inicial de confronto, na tensão entre o artista e o espaço que ele ocupa, no processo, na volta que se dá a essa tensão de modo a torná-la harmonia.
A obra de arte deixa de ser estática e intemporal, ela passa a ser um imenso parto. Ela tem um tempo e um espaço em que se inscreve, ela é um momento.
Porém, e apesar de não resultar dela – da obra – unicamente uma memoria ou um sonho, ela rege-se por princípios que trazem até si estes dois elementos.
Na teoria da arte contemporânea existem dois princípios básicos de produção: um principio de permanência e um principio de inovação. Em teoria, estes dois princípios opor-se-iam, uma vez que pressupõem directivas opostas para a criação artística. Contudo, e na minha visão, estes dois princípios – quando aplicados ao trabalho site-specific – deixam de ser opostos para passarem a ser complementares entre si.
Se por um lado a obra permanece, tanto para o local, como para uma audiência e para o artista, no seu sentido mais clássico da contemplação de uma obra de arte, e da apresentação da mesma; ela é também efémera e aberta a diferentes interpretações, inovadora em si e inovadora para uma futura, mais ou menos próxima, criação artística.





one to go...

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