Wednesday, May 07, 2008

...das identidades (take #20) Gravador nº1: Tempo (4ª parte)

Citando Korzybslsi, William Burroughs descreveu o ser humano como «o animal que encadeia o tempo».
A bem da verdade, e se Burroughs quisesse ter sido especialmente correcto – ou fosse português –, não teria definido o ser humano como o animal que encadeia o tempo, mas sim como o animal que constrói tempo, e que esse tempo é (em essência) a sua própria existência e individualidade.
Como parte ínfima e mais elementar desta estrutura teríamos os acontecimentos inscritos – vivências mais ou menos voluntárias que, por um grau de relevância emocional, se destacam de todos os acontecimentos quotidianos que seguem uma lógica ou rotina –, que depois de arranjados, sobrepostos ou entremeados construiriam uma narrativa de memória, e subsequentemente de identidade. Tal narrativa, apresentaria uma construção épica, em que só existem acontecimentos inscritos de elevada relevância emocional, e que descreveria o papel do indivíduo num grupo (mais ou menos alargado), de modo que a sua memória lhe sobrevivesse.
Citando Korzybslsi, William Burroughs descreveu o ser humano como «o animal que encadeia o tempo».
Eu descrevo o artista português – e o artista porque o faz talvez de uma forma muito mais assertiva, do que outros indivíduos de uma sociedade – como o animal que se sobrevive a si mesmo através da memória.

[Imagem: 'Family Project' de Miguel Bonneville (2007)]

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