Monday, June 30, 2008

...das identidades (take #32) Standing Ovation (2ª parte)

Um homem apresenta-se perante um público usando vestuário masculino. Ao som de música electrónica despe-se, e volta a vestir-se. Deste feita envergando um vestido curto, collants, saltos altos e uma farta peruca loira. Standing ovation.
Um homem vestido de cor-de-laranja é fotografado. O seu fato é composto inteiramente por panos do pó. A fotografia é captada num dos lugares emblemáticos do país. Portugal dos Pequeninos. Ele limpa o pó a esse lugar. Standing ovation.
Um coelho da Páscoa apresenta-se junto de um árvore de Natal. Os enfeites são mensagens a programadores culturais, de programadores culturais, a ministros – primeiros e segundos. O coelho da Páscoa transforma-se num homem. O homem conversa com um programador imaginário. O homem transforma-se numa mulher. Essa mulher é uma prostituta do Cais do Sodré. Standing ovation.
Apresenta-se ao público. Não fala. A música começa. Cobre todo o seu corpo de fita-cola, larga, amarela e escrita. Fragile. Cai, morto. A música continua. Standing ovation.
16 de Novembro, Dia Nacional do Mar. Teatro. As cortinas estão já abertas. Num canto, uma mesa de mistura, uma cadeira e nela um homem. O ecrã azul começa a ter imagens. Durante hora e meia, assiste-se a todo o dia do homem. Tudo o que antecedeu aquele momento. Até àquele momento. Até nos vermos a entrar de novo na sala do espectáculo. Apresenta um dogma sobre produção artística. Distribui-o pelo público. Standing ovation.
Entra na sala como em casa. Dança. Transforma a dança. Constrói coisas com sacos de papel. Transforma-os. Transforma-os em si próprio. Morre. Deixa o seu retrato na parede, junto com todas as suas coisas. Standing ovation.

Estes são alguns exemplos, muito sumários, de alguns espectáculos de Miguel Bonneville, Ramiro Guerreiro, Rogério Nuno Costa e Tiago Guedes. Estas peças levantam questões que abarcam desde as políticas culturais do país, até à solidão – passando pela homossexualidade, identidade, género, família, práticas artísticas ou ideologias subjacentes a um sistema político e social.


[Imagem: 'Um Solo' de Tiago Guedes (2002)]

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