Wednesday, July 09, 2008

...das identidades (take #33) Standing Ovation (3ª parte)

Enquanto agente social, a arte parece levantar questões que, ainda que fossem levantadas por outros meios de comunicação, não teriam o mesmo impacto. Questões politicas, questões tabu, questões sociais, questões artísticas, etc. Enquanto agente social, a arte deixou de ser encantatória, deixou de ser denúncia. Como sempre o foi, ela agora assume-se desinibidamente como discurso, como forma de pensamento, como conhecimento, como poder.
Por outro lado, e pela sua analogia não só de estrutura, mas também de processo de criação, a arte passou também a assumir-se como identidade. Tal facto não se prende tanto com o trabalho acerca do eu – apanágio da contemporaneidade –, mas antes com o uso do eu como instrumento para marcar uma posição artística, politica e social.

Tal como a arte portuguesa, apesar de eminentemente pós moderna, também a identidade portuguesa se apresenta romântica no seu âmago[1]. Uma identidade assente num imaginário que tal como o Portugal dos Pequeninos necessita, actualmente, de uma limpeza. E a arte começa a reflectir esse acumular de velhice identitária.
Parece ser razoável afirmar que o facto de possuirmos uma identidade mítica, e tão imaginada como o passado que reproduzimos em manifestações culturais, nos tem impedido de nos actualizarmos identitariamente – de reordenar as nossas memórias, de integrar as novas memórias e construir uma identidade renovada sem esquecer todo o que já passou por nós, ou tudo aquilo por que passámos.

As mortes simbólicas e as anulações do tempo presente, ou até as demonstrações do estado da humanidade, apresentadas por estes artistas não são votos ao esquecimento. São antes arquivos: tratar de um assunto para que se possa passar ao próximo, para que o passado seja resolvido e arrumado. Para que com base nele se possa andar para a frente – no tempo, no espaço, e no conhecimento.
A arte já está a andar para a frente. Também ela deixou morrer muitas das suas práticas. Práticas que ainda hoje fariam sentido segundo alguns destes criadores. Mas está a andar para a frente, em direcção a algo que ainda não se sabe bem o que vai ser.

[1] Patrícia Portela. Para consulta da entrevista na íntegra, consultar anexos p. XXXVI.


[Imagem: 'Banquete' de Patricia Portela (2008)]

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