Sunday, July 13, 2008

...das identidades (take #34) Standing Ovation (4ª parte)

No campo identitário, Portugal continua a não conseguir estabelecer prioridades. Enquanto que para o processo artístico são seleccionados episódios segundo o seu grau de importância, a nível identitário tal continua a não se verificar. A identidade portuguesa continua a ser mítica, imaginada e a ter características de uma qualquer ode. Tal facto não teria tanta importância se a sua actualização se desse; porém a fundação desta identidade continua a remontar à Expansão Marítima e aos Descobrimentos.
Esta identidade continua a produzir-se com base num dos processos mais primitivos, porém dos mais complexos e de mais complexa apreensão, de produção identitária: a imaginação. Um processo de transformação da realidade circundante, numa outra mais aprazível, mais fácil e mais lenta.
Apesar de se começar a desvanecer na sua forma e no seu conteúdo, a identidade portuguesa continua a ser única pelo seu processo de produção. Na realidade, nesta era de sobrelotação de informação, de imagens, de rapidez e de transformação, a identidade portuguesa parece ser uma das mais aptas à sobrevivência dos indivíduos. Pelo menos a um nível cognitivo. Ela poderá parecer algo esquizoíde a quem de fora venha, mas é ela que nos permite sobreviver a esta rapidez, e sobretudo à nossa existência física. É este viver na memória. É este viver na arte que nos permite não sermos esquecidos.

Gina Arnold disse, citando Henry Rollins, que a música existia para pôr mobília na nossa mente, porque a vida é cruel e a televisão é tão mesquinha[1].
Eu digo, citando Gina Arnold citando Henry Rollins: a arte existe para nos pôr pensamentos na cabeça, porque a vida é cruel e a televisão não presta.
A vida é um calvário, e nós – portugueses – só queremos que não o seja tanto. Standing ovation.


[1] ARNOLD, Gina, Route 666. On the Road to Nirvana, St Martin’s Press, Nova Iorque, 1993, p.228.

[Imagem: Promocional de 'Vou A Tua Casa - Triologia' de Rogério Nuno Costa, por José Luis Neves (2005)]

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